sexta-feira, 17 de novembro de 2017

10 Anos de Blog: "Leoa"


Comemoro neste mês 10 anos publicando neste espaço. Mais de um terço da minha vida esteve por aqui registrado, o que para um fiapo de poeira pairando no ar, um grão de fuligem que se desprende da grande fogueira... -- que dimensão possui o ser humano diante da vida, que outra escala eu me utilizaria para medi-lo, senão esta? -- é, considerável, apesar de discutível. Aprendi a falar, logo, não me calam; aprendi a escrever, portanto, em silente solitude, por puro desprezo a você, leitor, este ser que nem existe ("non legor, non legar" foi o que li em algum lugar...), publico hoje este punhado de rimas pobres que celebram a vida, essa consciente experiência onírica, no geral; e estes meus pensamentos rascunhados, petits faits, canções, poemas e afins. A fonte nunca cessa! Vida eterna: eterna vivacidade é a arte! Vivat comaedia!

Leoa, Leoa

Leoa, o meu rugido não é pra fazer sentido
Eu sou o que sou e grito à toa
Leoa, atravesso contigo os campos de trigo,
O que eu quero é uma vida boa

Leoa, eu já sei que eu sou um rei
Portanto, eu te tomei por minha rainha
Leoa, se esconda embaixo da minha juba
Onde quer que minha sombra te cubra

Leoa, tu és, porém, não estás presa
Entre as minhas garras, eu não amo jaulas
Leoa, eu te persigo à noite, no escuro
Se pra mim és promessa de um grande futuro

Leoa, tu me encontrastes quando descia a montanha
Incendiário, trazia comigo minhas chamas
Mas leoa, eu ainda trago na minha língua
O amargor das minhas cinzas

Leoa, é na relva onde mostro que à selva
O meu domínio é exímio
Portanto, leoa, me chamo leão
Porque eu faço “sim!” mesmo se digo “não!”

Leoa, eu passo minha humanidade adiante
Posto que a minha fonte é incessante
Apesar de minha espécie estar em extinção
Eu sou mais raro ainda a cada estação

Leoa, não tenho outra coisa que não
Muita coragem pra um só coração
Leoa, eu sou puro instinto
Transformo a água benta no melhor vinho tinto

Leoa, há recantos do meu caminho
Que perfaço em prantos quando estou sozinho
E se o faço, leoa, lambendo minha ferida
E porque sei celebrar a alegria da vida

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Narciso é Preciso

Há pouco estive sondando de uma outra mesa um happy hour de jovens senhores, gentlemans, dos médios degraus da maçonaria brasiliense. Reconheci um deles, um antigo colega de trabalho... Eu, que nesta seara, estou mais para rosacruciano, o avesso de um decadént, tal qual um Prometeu -- o que está oculto trarei um dia à luz -- perscrutei com razoável desgosto tal encontro. Eles eram mau-constituídos, feios, desproporcionais -- o que seu instinto compensou em espírito. Talvez esse o motivo maior de seu ódio à vida e à humanidade. Voltando a mim mesmo, não pude escapar da reflexão de sempre ter tido o anseio de atingir a perfeição. Essa era minha obsessão quando adolescente, ainda me recordo. Descobri maravilhado nos idos de 2015 que eu atingira, num equilíbrio de disposição fisiológica, a perfeição como estado natural; longe de ser uma condição de morbidez monocórdica, de perene serenidade de humor, nesse estado perfaço o repertório de afecções que a vida me conferiu, exercito a dialética do meu espírito, aprimoro as faculdades do meu corpo, noutros termos, mantenho uma saúde elevada, grande. Nada há que esperar de uma "vida eterna" -- isso soa mesmo, para mim, como uma morte lenta. Moral da estória: desconfiar, reter forças, até subjugar, se necessário, tudo o que não for belo como eu.