domingo, 22 de outubro de 2017

Dois Pensamentos Sobre a Educação

1. Falando de asseio — Uma esponja que se presta a lavar muitas louças sujas finda por encontrar-se, depois de muito trabalho, suja ela própria, ela própria necessitará ser limpa após determinado tempo. A molécula de sabão, para atingir o ideal da limpeza, carrega consigo aos esgotos as moléculas de gordura. O mesmo princípio vale para a educação. Moral da estória, em linguagem nietzscheana: o homem do conhecimento deve saber limpar-se mesmo na água mais suja...

2. A educação como ideal — O primeiro desafio da educação — pública, no Brasil... mas também universalmente falando — é superar as hipocrisias 1) de supor que o conhecimento tem algum fruto, senão, ele próprio; noves fora os privilégios legalmente constituídos destinados aos monopólios da expedição de diplomas [portador de tal diploma possui tais e tais liberdades de atuação econômica na sociedade, etc.], não há, absolutamente, garantias de que o conhecimento formal, por si só, eleve ou modifique o patamar material da vida de alguém; 2) e de que o(s) conhecimento(s) é/são acessível/acessíveis a qualquer um; que, na diversidade de conformações intelectuais, no acaso do destino de constituições de sujeitos, haja acesso livre a uma compreensão superior de mundo. O segundo, é superar o pressuposto de que, para o desprovido de acesso àquela compreensão, seja destinada uma vida de privações das satisfações básicas da vida — a fome, a pobreza, o não-direito à cidade, à qualidade de vida, etc — ainda que essas condições sejam, ao fim e ao cabo, determinadas pela média das condições socioeconômicas de qualquer sociedade, a compreensão de que um desequilíbrio na balança da desigualdade, para ser mais simples e direto, fará ruir o edifício da sociedade é um dado vislumbrado em uma compreensão superior do mundo. Mas, como já o dissera, há uma inescapável hierarquia da inteligência... — contudo, não me creem, a menos que já o saibam.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Estragando Uma Fantasia...

Eu estrago a minha fantasia se nela visto todo mundo. Igualmente, desgasta-se, torna-se "identidade", familiaridade - aquilo que "conheço" e não mais me inspira vontade de conhecer -, vestindo-a sempre na mesma pessoa. Prudente é, pois que a alegria quer durar a eternidade, que se busque vestir uma determinada gama de pessoas, ou mesmo "coisas", objetos e experiências, de modo que ela, a fantasia, sempre se renove e se mantenha acesa a chama do desejo. Mas muitos pregam uma morte lenta das fantasias... Para estes, minha moral não possui a mínima serventia. E como poderia a felicidade dessa gente que escancara os dentes se confundir com a minha felicidade? Como poderia a minha moral ser a moral de todo mundo? Estragaria, deveras, a minha fantasia.

Privilégio do Casamento

Privilégio dos que se casam - Muitos se conformam à vida conjugal pelas inegáveis conveniências que ela dispõe. Com algum desprezo à verdade, às vezes chamam isso de amor. Contudo, há um privilégio que só é dado aos que, ao menos uma vez, se casaram: poder afirmar que fizeram na vida aquilo que fez dela melhor - divorciar-se. Partindo do princípio, que não é dado a todo o mundo, de que liberdade e autonomia são valores supremos, que proporcionam uma vida forte e feliz. Um sagrado egoísmo, se poderia dizer.

domingo, 1 de outubro de 2017

Princípios de Humanidade

I. Princípio de humanidade: não cobrar das pessoas aquilo o que elas não são capazes de fazer.

II. Tragédia de quem obedece: quando não há quem tenha voz de comando; não reconhecer legitimidade na autoridade leva à revolta ou à displicência.

III. Tragédia de quem comanda: quando não há pessoas que obedeçam; não ser reconhecido por quem deveria obedecer leva à paralisia ou a ineficiência.