domingo, 19 de março de 2017

"Estamos Febris" ou "Que Quer Dizer Decadência?"

O que determina para onde pende a experiência onírica? A saúde do corpo. Afinal, nunca será tarde demais para lembrar: não há nada além do corpo. Uma digestão pesada, um metabolismo do álcool, leva ao pesadelo e ao horror noturno; o bem-estar, o relaxamento dos músculos após a tensão, a descarga hormonal em equilíbrio leva ao sonho, que eleva, que mostra caminhos simbólicos para a auto-superação. Pois bem: o nosso corpo, enquanto sociedade, está em febreluta-se dentro dela mesma contra os corpos que a atacam — daí se compreende tantos mal entendidos, quantos enganos... 

Não será suficiente um balde de água gelada por dia até 2018 para "estancar a sangria", para recuperar alguma sanidade, o que permitiria aos instintos alcançarem por si próprios os fluxos saudáveis — oxalá houvesse um degelo do ártico sobre nossas cabeças! Me explico: a decadência é a deterioração do instinto, quando se quer aquilo que faz mal, quando se anseia por aquilo que diminui a potência de agir. Febris procuramos nos cobrir, trêmulos, quando deveríamos encontrar, suportar, um bom banho frio! 

Estamos procurando os caminhos mais fáceis, os atalhos mais ou menos curtos para a morte, que em nós a doença pede — o fascismo tosco do Bolsonaro ou o populismo cretino do Luís Inácio (espumas das ondas que varrem as praias da nossa era, cada qual a seu tempo... mas, o oceano é muito mais profundo!), tanto faz — quando deveríamos suportar o mais dolorido e, deveras, terrorífico: destruir, nos afastar daquilo que nos faz mal, criar e construir aquilo que é ainda inconcebível...

Nós, os criadores, sabemos o quanto de dor é necessário suportar para tal; sabemos que não é dado a qualquer um suportar qualquer dor... Também aí não compreenderam (talvez assim seja melhor...) Frederico: para muitos, para a maioria, é necessário e até essencial decair — esse é o sentido e a função da democracia. Apenas assim, após a convulsão da gente pequena, a Terra se livra dos supérfluos e oferece, generosa, sua abundância aos fortes — chamemos isso do que quisermos, nós, os herdeiros do futuro, o sentido da Terra.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Jamais

"Amo aquele que não quer ter virtudes demais. Uma virtude é mais virtude do que duas, pois significa mais laços em que a fatalidade pende." ou "Mais nós em que se ata o destino", em outra tradução, não importa. Oxalá que um dia eu venha a adentrar os muros das instituições totais apenas como uma referência do que há de mais elevado e afiado e forte, herdeiro e justificador de toda a contracultura. Que minhas filhas, minhas canções, dádivas que a humanidade ainda não merece, levem meu legado à eternidade. Desconheço qualquer "vida eterna" — apenas reconheço a eterna vivacidade: estou pra sempre inscrito na minha música!

"As grandes épocas de nossa vida são aquelas em que temos a coragem de rebatizar o nosso lado mal de nosso lado melhor" (Nietzsche, "Além do Bem e Do Mal")

"Jamais"
(Juliano Berko)

No deserto em que habito
Estou habituado aos perigos
Pois, meu lado mal é meu lado melhor!

No recanto em que descanso
Canto aos céus o meu destino

Sou um “tentador” e essa definição
É uma tentativa e uma tentação...

Nunca diga:
“nunca diga nunca”
Diga: jamais!

Há tanto expulso do “paraíso”
E não me perdoam o meu sorriso!
Não farei igual — eu farei pior, pois!

Postado em frente aos portões
Encarno minhas contradições

Não digo ‘não’, senão, na ocasião
De negar o negador pra ser — afirmador...

Nunca diga:
“nunca diga nunca”

Diga:
Jamais me arrependi do dia em que nasci
E se alguém afirmar ter me ouvido falar
Qualquer coisa que talvez me contradiga
Como negar se amo até meus piores dias?!