segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Feminismo ~Pára Que Tá Feio~

Hoje vamos falar um pouco sobre o feminismo, essa nobre corrente de Andrômeda que pende do humanismo, filha prodígia daquele que é avô e pai do sentido histórico. Vou me furtar de comentar minucias de autoras, teorias, multiplicidade de correntes... essa mesquinharia não me cabe, é perda de tempo e, afinal, não é a forma propriamente acadêmica que me interessa aqui. 

Contudo, vamos falar não de Andrômeda, propriamente dita, mas de Medusa: aquilo que eu chamei, zombeteiro como não poderia deixar de ser, de feminismo ~pára-que-tá-feio~ ou, como algumas se intitulam, feminismo radical. Já comentei sobre essa canalhice intelectual aqui anteriormente e vou tentar desenvolver um pouco mais do meu diagnóstico e raciocínio.

Essa vertente, que busca o monopólio do debate sobre o feminismo e aparece vez ou outra em acalorados ~debates~ nas redes sociais, defende, dentre outras coisas (bandeiras históricas gerais do feminismo) e de modo geral, que 1) os homens não podem declararem-se a si como "feministas", todavia, devem apoiar as pautas feministas "desconstruindo" o machismo entre os seus pares de gênero; 2) que os homens não sofrem sob o regime do patriarcado; 3) que as mulheres não podem ser machistas, mas, em determinados contextos, pode ocorrer de agirem alienadas pela ideologia patriarcal e, por consequência, 4) as mulheres, todo o gênero, são sempre vítimas daquele regime. Vamos nos deter nestes pontos. 

1. Como está colocado por algumas visões divergentes, o feminismo não é, a priori, uma demanda específica de gênero - por pressupor uma igualdade formal, econômica, política e social entre os gêneros, ela interessa à humanidade, ou seja, é uma demanda da "espécie". O feminismo radical quer o monopólio do debate, como dito, e quando se é afrontado com argumentos - que não têm gênero, até onde eu sei - dizem que "ozumi" estão querendo "protagonismo" na luta. Noves fora a estética de extremo mau gosto dessa falácia, podemos responder à ela transpondo a sua lógica, dizendo então que só poderia ser comunista, ou de esquerda, quem é oriundo necessariamente da classe operária! O que, no rigor da história, não é verdade. Gramsci se reviraria no túmulo...
Além disso, argumentam que o papel dos homens na construção do feminismo seria... desconstruir o machismo dos seus amigos, homens do círculo social, etc. Este é um argumento muito interessante porque parte do preconceito de que, para os homens, os argumentos de outro homem têm mais força do que os de uma mulher. A visão, vejam só!, que possui a ideologia do patriarcado. É isso o que a voz gutural do patriarcado diz às mulheres que se rebelam para que elas calem à boca. Todavia, é uma falácia e não corresponde à realidade do raciocínio daquilo/daquele que quer conservar o seu poder - o machista ouviria de qualquer um, homem ou mulher, um argumento que falasse à conservação do seu status. 
Moças, se eu conseguir ser claro: um cara que se arvorasse defensor do feminismo numa roda de machistas inveterados seria, no mínimo, ridicularizado até o limite da sua paciência... Porque, reiterando, não interessa quem emite a mensagem, mas como e o que é essa mensagem. Se são homens machistas, que se regalam nos privilégios do patriarcado, não irá fazer diferença quem defenda uma visão diferente do mundo, uma reestruturação das relações! 
E o incauto que se dispor a cumprir o papel de "evangelista" do feminismo... bem, que aprenda ao menos a lançar ossos àqueles que só sabem latir. 

Uma alegoria para finalizar a digressão: 

- Evangelista da Abolição: "Olha Senhor, a escravidão é uma condição que degrada a humanidade e deve ser abolida". [Nota: um argumento racional amparado em um paradigma determinado] 
- Senhor de Escravos: "Ah, claro, que bonitinho... mas e quem vai trabalhar cortando cana... você, seu intelectual metido, que foi estudar na França?! É claro que não!" [Nota: Quem está no poder que perpetuar o seu poder...]

Poderia estabelecer o desenvolvimento desta dialética que demonstra como a "boa vontade" do evangelista funda a "escravidão" assalariada, pra satisfazer a sua vaidade de ver o fim da escravidão formal "desconstruindo" o senhor de escravos... e perpetuando o estado das coisas. Mas tenho outros pontos a comentar ainda.

2. Moças, acreditem: nós, os homens, não somos uma massa homogênea. Não possuímos nenhuma condição que nos classifique a todos de modo geral que não o Y (e olhe lá!) que carregamos no código genético. Portanto, nem todos os homens (e falo aqui apenas dos heterossexuais!) conseguem se adequar ao estereótipo do ~machão~ e às relações preconizadas pelo patriarcado. Os mais machistas, inclusive, não poderiam nunca desenvolver uma sutileza na sua sexualidade para com uma mulher... eles se regalam entre si contando sobre suas experiências sexuais - filmam as transas com as meninas e depois jogam no whatsapp pros amigos verem; não experienciam uma verdadeira e profunda troca de afetos que apenas um homem mais sensível invariavelmente é capaz de estabelecer. Um homem de sensibilidade que seria ridicularizado numa roda de conversa de machistas. Seria contraproducente relatar os inúmeros episódios de embate contra a ideologia patriarcal estabelecidos no decorrer da minha própria vida - não defendendo mulherzinhas, como queriam alguns, mas - sobretudo para poder expressar a mais genuína manifestação de mim mesmo, e isso, pessoal, é simplesmente ser honesto. Enfim, contra o argumento do suposto "feminismo radical" (se é que não confundem raiz com as pontas dos galhos!), se isso não bastar, um silêncio obsequioso. 

3. Aqui chegamos a um ponto interessante. Ninguém "é" um rótulo. Alegar isso é a mais destilada forma da estupidez. Todavia, algumas mulheres podem sim estabelecer práticas e relações machistas - entre si e na lide com os homens (vou me alongar nesse argumento no próximo ponto). Da mesma forma que o feminismo radical defende as mulheres que incorrem em "deslizes" machistas, poderia defender que os homens o fazem da mesma forma: alienados pela ideologia patriarcal. Entretanto, isso é indefensável. Eu mesmo ouvi - li, pra ser mais exato; era uma conversa pela internet - de uma moça com quem tive uma breve e febril relação afetiva, e que hoje se intitula "feminista radical", que em uma foto minha no orkut eu estava com uma "boca de chupar r***" (obs.: já comentei como essa gente é temerosa em estética?). Desnecessário me alongar nessa baixaria: o machismo é o estado natural das coisas sob o patriarcado, tanto faz o gênero em que se o observe. 

4. Este, para mim, é o mais importante. Porque vitimismo é covardia intelectual. É postura dos pusilânimes diante da vida. E, de minha parte, não tomo as mulheres, de modo geral, por covardes ou vítimas incautas de um conto de fadas. Este argumento ignora solenemente que houve um tácito acordo, um "contrato social", não entre os gêneros, mas entre personalidades afins - tanto no masculino como no feminino - na fundação do patriarcado primitivo. 

O primeiro homem de índole machista a descobrir a sua função na reprodução sexual deve ter ficado maravilhado! O seu ódio e a sua preguiça falaram assim: "Posso produzir um exército que exterminará os meus inimigos e um outro que serão meus escravos e trabalharão para mim!", ele se rejubilava! A sua vaidade quis que tivesse então o controle total sobre a reprodução da espécie humana, de modo que ele pudesse satisfazer a sua curiosidade - "como ficaria a minha mistura com aquela mulher? E com aquela outra de pele escura? E com aquela de olhos azuis?"; a sua inveja - "Com essa posso ter filhos e filhas mais atraentes. Este poderá ser precursor do meu poder; com aquela eu poderia me divertir sexualmente ou vender a um bom preço para alguém!" e o seu orgulho - "Esta mulher pode dar-me filhos mais fortes, ampliando o meu poder!".

Este monstro estabeleceu um acordo entre seus pares evidenciando que, para conservar o instituto da propriedade privada, seria preciso ter total controle sobre o trabalho e, para tal, controle sobre a reprodução da espécie. Assim, convenceu os seus colegas, mais ambiciosos que interessados no "amor" de uma mulher. 

Isso tudo não poderia se sustentar sem o apoio da outra parte. As mulheres de índole semelhante, como num conto de fadas, participaram dos mesmos pérfidos sonhos e assim se estabeleceu a fundação da divisão de poder, do contrato entre as partes: a divisão sexual do trabalho.

Como numa primitiva estratégia de marketing, às mulheres eram oferecidas a segurança contra ataques de outros homens lascivos (e tais quais os bancos que vendem seguros têm interesse que haja roubos e acidentes, os machistas de então sobrelevaram a violência física e sexual contra as mulheres, de modo que o casamento pudesse ser um bom negócio) e a estabilidade econômica (no acordo, o homem cumpre com o suprimento das necessidades materiais - o trabalho - enquanto a mulher cuida da organização do trabalho no lar, livre das intempéries, de ataques de animais, de outras tribos, etc.) como os grandes atrativos do casamento - sob o regime do patriarca, estas mulheres estariam a "salvo". 

Para que a reprodução pudesse ser controlada, o controle da sexualidade era uma cláusula pétrea: Até meados dos século passado ainda havia no ordenamento jurídico brasileiro o "crime contra a honra", em que um homem poderia matar a mulher e o seu amante absolutamente impunemente, alegando defesa da honra.

A sacerdotisa da babilônia (um arquétipo, não um indivíduo) pré-cristã, que estabelecia práticas sexuais em rituais religiosos, evocando a fertilidade da colheita, etc. & etc., com a decadência daquele antigo paradigma religioso e o posterior advento da moral judaico-cristã, segue à "castração" dentro do casamento monogâmico. Caso falhasse na gestão dos seus desejos, a morte por apedrejamento seria coisa certa. Àquelas mulheres sensuais e atraentes, que se aperceberam da oportunidade econômica, abriu-se um novo nicho: a prostituição. E, lembrando a Beauvoir, entre o casamento e a prostituição não havia - e nem há ainda - um abismo tão grande quanto se imagina...

Daí decorre toda uma sucessão de gerações, com suas evoluções tecno-políticas, inflexões, ajustes, etc. & etc. que nos trouxeram até aqui.

Novamente falo por experiência própria. Eu sei que espécie de mulher é esta que se adequou ao patriarcado. E elas são tão asquerosas quanto os homens daquelas rodas machistas. Cresci dentre elas. Correm do emprego como o diabo da cruz. Vivem para casar com alguém rico. Forçaram o quanto puderam à minha conformação ao patriarcado. Falharam miseravelmente.

Elas assinaram esse acordo - para o bem e para o mal - e aqui estamos, tentando desfazer os nós de uma corda que nos ata à civilização primitiva, à violência, à castração das vontades, à uma economia dos afetos tristes.

Quão pérfido é negar o debate destas questões! Nada há por sobre a Terra que se assemelhe mais ao machismo que essa degeneração do feminismo!

Eu, que me filio à linhagem dos grandes gregos, sou Perseu: não me vergo. Vejam-se neste espelho, Medusas! Sei bem passar ao largo de vossa monstruosidade! Que virem pedra e pereçam! É Andrômeda a mulher com quem quero ter filhos, pois, eu a amo.

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