terça-feira, 3 de março de 2015

A Minha Hora Mais Silenciosa

De repente, de coração apertado pelo sussurro da minha hora mais silenciosa, me vi quase que em um lamento:

- Ah, se eu houvesse descoberto as virtudes das artes mais cedo em minha vida... ou o sentido da terra!
Quem sabe o que seria de mim hoje? Um atleta ou artista profissional? Será que minhas artes poderiam pagar minhas contas? Será que eu poderia encampar carreira de um corredor, nadador, poeta, músico, o que seja..? Alguém que gozasse da plenitude da vida? Que vida levo eu, então? É a vida que eu quis, decerto - mas é a vida que eu quero?

Com isso, não quero dizer que meu desejo, hoje, é menos pleno, menos forte - exatamente o contrário - e justamente por isso que me permito deitar sob o portal do instante imenso e olhar para trás: pois, sei que há ainda o infinito à minha frente.

Libertei-me de um jugo. De um não!, vários! Ora, de quê importam para vós, amigos? Estou livre para quê? Para me atar ao jugo do tripalium?

Esse é o sussurro que me dilacera os tímpanos; me estraçalha os ossos dos ouvidos.

Quero encarnar o sentido da terra! Quero, enquanto criador de conceitos, fazer da arte o meu ofício!

Ah, perdoai-me, amigos, pois que a partir de hoje terei que utilizar-me novamente do ~corpo-sem-órgãos~ que construí para mim...
Enquanto, hoje, não queria fazer da vida outras coisas que não compor, tocar e cantar; correr, pedalar e nadar! Sob o sol, amigos! Sob o hálito morno do sol, que é como o meu próprio, cheio de amor à terra; como eu mesmo, um amor que se dá e, assim, toma para si as coisas mais belas.

Ó, amigos! Perdoai-me! É só o gelo da noite a esfriar os meus ossos... Aurora vindoura!

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